terça-feira, 28 de setembro de 2010

MURMÚRIO


Mãe Arrábida está a escutar
O soletrar, em alta voz;
Deixa Albarquel a murmurar,
Por ver o Sado no espraiar...
Correndo veloz para a Foz!

Protegem a Cidade Bela
S.Filipe lá no alto -
Forte da Praia em sentinela;
A noite brilha, à luz da vela,
Aquece o sonho, em sobressalto.

Nesta água azul cristalina
Navega no leito... linda Baía!
No cais, acolheu a varina,
O pescador cumprindo a sina...
Riqueza que do mar trazia!

Neste painel de rara beleza
Em que Céu se funde com Rio
Aqui... floresce a Natureza!
Embriaga a força e certeza
E, ao futuro... exige desafio.

Nesta encosta verdejante,
Límpido lençol, de liquido quente,
No Verão, por areia escaldante,
Refresca a alma, ao caminhante
Porque o Sol... dá o que sente!

Setúbal, 26/09/2010
Inácio Lagarto

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

VENTO DE OUTONO


Vento de Outono chegou
Pairam nuvens no ar,
No fim de Setembro risonho;
A madrugada não calou
Este velho soluçar.
Surge tempo tristonho,
Janela do sonho... embala
Que ao presente prometeu!
Perturbado... esqueceu
De olhar pela vidraça,
Não viu o sonho voar
Quando a lâmpada, se apagou.

Não há esperança, sem ambição
Do passado, traz testamento
...Páginas do querer sangrentas;
Perdem-se na escuridão
Sem lerem o pensamento.
Não passaram pelas tormentas,
Rasgaram folhas pardacentas
Duma luz desmedida;
Só a vida não queimou,
Cinza leve perdida
Que um dia... o vento levou!

As estações são realejos
Tocam à razão... desgarradas;
Embalam sonhos e desejos
Fazem esquecer as cantadas.


Setúbal, 23/09/2010
Inácio Lagarto

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

SONHO EMBALADO


No percurso que é a vida
Com o nascer... surge o ouro!
No aprender lavra-se a prata
Que pode ser polida -
Coroada, com folha de louro,
Escolhida entre pura nata.
Percorrido o caminho
O homem, vai embalando;
Com seu grito... murmurando
Ninguém vive sozinho
Nem perde o sonhar,
Nesta dura subida!

Cavalgando no espaço
Na procura da razão,
Nesta alegre viagem;
O sol à terra lança laço
...Raio de luz à solidão
Que faz florescer a ramagem.
Na floresta perdida
Silêncios na hora calados;
Força de mente erguida
Seguem no querer montados,
Recebem o prémio da lida.

De corpo e alma amargurados
Duma ferida a sangrar;
Nesta nave, cumprem-se pecados,
Deixando o sonho de cantar.

Setúbal, 16/09/2010
Inácio Lagarto

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ONDE FOI PARAR O TEMPO?


Falta ao povo que hoje sente
Perguntar o que se esquece...
Onde foi parar o tempo?
O passado mora presente
A nuvem que rodeia, escurece.
Havia carroças na rua
Transportando os afazeres
...Pouco sobrava para lazeres;
Os avós davam mimos
A vida não era só sua...
Todos na família eram primos
Na charrete, viajava gente!

A chaleira encostava ao lume
O pão, na brasa torrado;
A panela, cozinhava sem azedume
O pai era... Chefe respeitado.
O cesto ia à vindima
A azeitona ao lagar;
Entre pinheiro, com lágrima, a sangrar
Crescia trigal, por montes acima;
A palha descia ao palheiro
Para gado impaciente...
Carne de porco ao fumeiro
Foi aquecendo a nossa mente.

Lembram- se janelas, com namoro,
Belos sonhos em sobressalto;
Os gritos das crianças em coro
Correndo velozes, sobre asfalto.

Setúbal, 14/09/2010
Inácio Lagarto

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

CONSTRUÇÃO DUM SONHO


Hoje vejo que pouco sei
Corri atrás dum grande sonho;
Palmilhei quanto caminho?!
No céu, uma estrela agarrei.
Vi arco-íris risonho -
Do tempo recebi carinho
... Exerci uma profissão
Que ao viver deu a mão;
Pincelando a viagem
Na esperança beijei...
Para alimento da passagem
E, ao futuro... eu me dei!

Naquela tarde mansa
Fui operário construído
Mero Ser em embrião;
Com o dia a noite avança
Naquele sonho não vendido,
Ouvi a voz da razão.
Minha mente escutei...
Fez crescer o coração;
Dividido entre operário
Fui dando, força ao imaginário
E naquela onda naveguei!

Um novo mundo nascia
Desejava vida bela;
Mistério que em mim havia
Era construir... só p´ra ela.


Setúbal, 09/09/2010
Inácio Lagarto


domingo, 5 de setembro de 2010

VIVEMOS NO APRENDER


Do útero ao túmulo frio
Vivemos no aprender...
Nesta escola da vida;
Sofremos algum vazio -
Ganhamos muito saber
Numa passagem repartida!
A cobiça também distrai
Neste caminhar feliz;
Clama pela liberdade
Da partilha da verdade
Porque a primavera... assim quis
E, a corrente alcança o rio.

Aproveita o belo instante
Das mil razões ao sorrir;
Disciplina os afectos
... O perigo vive constante,
Nada o pode impedir.
Os traços não são correctos
Lutam atentos à viagem,
Sobre o sonho que coloriu;
Sem ordem tudo é em vão,
Há que educar o coração
Regar com alma, a ramagem
Porque o tempo não ruiu.

Nestas nuvens rendilhadas
Em que mergulha, destino humano
Mistura das cores lavradas
Em lindo quadro soberano.

Setúbal, 05/09/2010
Inácio Lagarto