O PASSADO E O PRESENTE

Lembro o cante na taberna
numa partilha calma e fraterna
findo o dia quase ao anoitecer,
calando a voz do longo sofrer.
Desfilavam sobre as calçadas
evocando as riquezas roubadas,
dos sonhos feridos no coração
cujo lucro tirava à vida  o pão.

Viviam pobres de frescos salários
prestando vénias aos milionários,
trabalhavam com alma e devoção
caminhando… de olhos postos no chão.
Lavravam o campo de belo valor,
ceifavam a seara com muito ardor!
Nobre Povo fiel e honrado 
seguia no Tempo desamparado.

Numa ambição soberana
e tocado pela força humana
deu luz e voz à vontade!
Gritou bem alto pela Liberdade.
Saiu da Pátria, galgou a fronteira,
regressou com a imagem  guerreira
doando Saber ao Alentejo…
Concelho criativo que abraço e beijo.

Obrigado calmo Rio Xarrama,
a Alcáçovas e a Viana deste fama!
O Ideal de Abril nasceu ali  perto
no Monte do Sobral ao luar aberto.
É símbolo  forte da Revolução 
e dos cravos nos peitos com paixão.
Acalmados os velhos tormentos
brilham na fé os monumentos.



Setúbal, 31/07/2018
Inácio José Marcelino Lagarto

TERRA AMADA

Quanta beleza encerra
a Festa da nossa Terra,
no Alentejo profundo!
A maior riqueza no mundo 
serviu no tempo como sequeiro.
Sonho no lutar verdadeiro,
da fruta madura nos quintais
e do campo com verdes trigais.

Distrito belo, com luz de encantar,
do povo unido e sempre a cantar;
Concelho com velha tradição
na doçaria, enchidos, queijos e pão.
Nele brilham a arte  do chocalho,
o barro modelado com trabalho!
De costumes, de amores ancestrais
assim como sobreiros e olivais.

Gente com crer na caminhada,
da noite longa acordada
cuja visão estende o olhar
na esperança a divagar…
acorda a manhã transparente 
em que o sol surge com o raio quente.
A água brota fresca da fonte
almejando livre para o horizonte.

O Homem na despedida
partilha a saudade sentida!
Recordando pais, irmãos e filhos
na romagem por novos trilhos.
Com alegria, na plenitude
vai espalhando a sua virtude
não esquecendo a foice e a enxada
nem o ventre da Terra Amada.


Setúbal, 30/07/2018
Inácio José Marcelino Lagarto

PÁSSARO VOANDO

Bate as asas vai voando
Contempla no espaço nobre missão
Na Liberdade Sonhada
Fugindo à temível escravidão.

I
O Homem, cumpre o destino da vida
saturado pelos vendavais;
nos campos, casas a catedrais
nesta cruzada na Terra sentida.
Assombrada por força perdida,
verdes paisagens estão secando…
as árvores no chão tombando,
na alegria falta a ternura,
o ambiente chora sem frescura!
Bate as asas vai voando.

II
Sorri às horas  fielmente
ouvindo  o som dos duros passos;
à luz do céu estende os braços
olhando a chama fluorescente.
Num desejo de crer ardente
vai aquecendo o coração…
envolve-se na nuvem com emoção
num clima extraordinário,
fortalecendo o imaginário!!!
Contempla no espaço nobre missão.

III
Visões incendeiam o olhar
entre murmúrio e conquista;
pensamentos elevam a vista
como pássaros esvoaçando no ar.
Vaidosas aves no  seu chilrear,
confiantes vivem lutando…
novo mundo desbravando
numa vontade imensa,
esquecendo a sina e a sentença!
Na Liberdade Sonhada.

IV
Arrumado na mente o passado
os gestos livres e inocentes;
 das caminhadas pendentes
no livro do tempo escriturado.
Pelo vento e chuva apagado
aquele troféu da recordação…
como tijolo na base da construção
serviu de esperança, bom exemplo
ao corpo humilde, como Templo!
Fugindo à temível escravidão.


Setúbal, 29/07/2018
Inácio José Marcelino Lagarto

LÁGRIMAS

Soprando para além das imagens
vão alagando o sonho real.
As lágrimas de alegria nas viagens
por lugares belos de Portugal.

Inácio Lagarto

TRÓIA DE ENCANTO

Tróia acorda do passado,

ressurge numa faixa arenosa

banhada pelo Rio e o Mar.

Fértil  em peixe e no salgado!

Filha de Roma tornou-se famosa,

de sol quente, no paraíso a brilhar.

Cercada por água e verdura,

com ruinas vencendo o clarão!

Pintada numa tela de aguarela.

Oferece ao caminhante ternura

no sonho virgem , na toalha no chão…

cingindo no peito a idade bela.

Liberta do ontem feitos de glórias,

doando ao futuro olhares risonhos

através de troféus de encantar.

Guarda no seio gritos de vitórias!

Saltam no Sado golfinhos de sonhos…

arautos na Península no mergulhar.

Estrela de Grândola e, de Setúbal,

em que navegam os marinheiros

protegidos pelo céu azul vindo da fonte.

Veste de luz e de seda divinal,

na corrente do sul traz os troveiros…

beija a Arrábida no horizonte.

Transporta risos e tentações,

acalma na terra perfumada

soltando-se das fortes amarras.

Irmãs nos prantos, nos corações,

junto à muralha em noite louvada…

ouvem o trinar das guitarras.

Setúbal, 27/07/2018

Inácio José Marcelino Lagarto

ÁRVORE FRONDOSA

ÁRVORE FRONDOSA

Avós são sombra da árvore frondosa,

transportam na seiva o viver!

São templos de labor

no altar da esperança…

tornam a vida gostosa,

nosso futuro a vencer.

Regam o sonho em flor

dando força à confiança.

Amam a raiz florida,

afagam a sua graça 

entre desejos puros…

beijam olhando os céus!

Curam a dor sentida.

Mostram à gente que passa

os seus passos seguros

na luz que vem de Deus.

Avós são recordações,

carinhos com mais encanto

nas alegrias, nas emoções,

vão calando todo o pranto.

Bons amigos e companheiros,

nossos heróis, nossos Pais!

Contam sonhos verdadeiros

de sublimes ideais.

Setúbal, 26/07/2018

Inácio José Marcelino Lagarto

FEIRA DE AIRES

Perfumando a paisagem com encanto

abrem-se as portas do Santuário!
deixam entrar o Povo em belo Canto,
num fausto cortejo extraordinário.

Vamos à Feira De Aires por amor, tradição,
partilhamos a Fé e Fraternidade!
Caminhamos alegres com alma e devoção…
de voz sentida pelo sonho e saudade.

Viana do Alentejo, Terra fértil e amada !
Em Setembro...festiva e engalanada
a fim de glorificar a Força Humana.

Da encosta soberana, do alto da serra,
olha a planície, a beleza que nela encerra!
Sorri à Chama Social cuja vida irmana.



Setúbal, 24/07/2018
Inácio José Marcelino Lagarto

IDENTIDADAE

Enraizando na vida o sonho futuro
vamos modificando a atitude. 
Na caminhada dum tempo seguro,
ficamos de olhos postos na juventude!...


Sonhando na força que emana da Ciência,
no querer do Homem, na sua Criação!
Moldando o Saber à Experiência
cujo final é… a Valorização.


Na partilha intergeracional,
solidariamente  por um ideal ...
alimentadora da vontade Humanitária.


Curvados ao raiar do sol a brilhar
num Mundo de Esperança, Amor a salvar…
almejando  a Sociedade Igualitária.


Setúbal, 21/07/2018
Inácio José Marcelino Lagarto

(Editado na Antologia -Direitos Humanos
«Um Sublime Poema à Vida»-2018)

PEN DA SAUDADE

Da existência não vou desistir
nem de lutar por aprender!
No divagar escuto o sentir,
rego na corrente o resistir…
a força a que pertence o SER.

Sigo e caminho a meditar,
de ramo em ramo trepo na mente!
Quanto fruto fica  por apanhar
lá no alto, ao sol a brilhar?
À espera da noite irreverente.

Olho com firmeza o futuro
agarrado ao sonho, à fértil terra!
Trago no peito passado duro,
moldado à mão, com sorriso puro…
criação, luz que arte encerra.

Nesta chama da vida sonhada
jamais falta a partilha social!
A terna palavra lavrada, 
em filosofia musicada…
pela imagem lucida natural.

Na distância percorrida
vão surgindo crenças e ilusões!
Necessidades de guarida
numa esperança esclarecida
entre vivências, deveres e paixões.

Sirvo ideais de Sul a Norte
comungando na igualdade!
Bebo água fresca, da fonte da sorte,
sacio a sede, na harmonia forte…
que guardo na PEN da Saudade.


Setúbal, 06/07/2018
Inácio José Marcelino Lagarto

B E I J O S

Beijos são reflexos, desejos, carinhos sentidos,
mantas de conforto, tocam no rosto, sorrindo ao bem!
Chamas brilhantes entre pais e filhos, amores vividos…
agitam vontades, vão de boca em boca, vibram por alguém.


Há o beijo da Vida, surge no terno berço de embalar,
rompe alvorada, cresce...com novo florescer!
Espreita a sombra, o clarão, a noite livre ao luar.
Na conquista, na glória, ergue o troféu do Ser.


Mas, o beijo da existência, apaixonado e profundo,
que encanta as estrelas do céu, o sonho e o mundo!
Só é dado pelos cuidados da "Santa" que nos criou…


Com nobreza, lutando contra medos e quimeras,
voando nas asas do tempo, nas primaveras!
Foi de Bela Senhora, Nossa Mãe, que por nós rezou.


Setúbal, 04/07/2018
Inácio José Marcelino Lagarto

A B R A Ç O S

Um abraço é conforto oferecido e quente

que toca na hora, o carinho, o sentimento.

Consola a Vida, a mente, o sonho e sente!

Ilumina a esperança, a alegria, no momento.

Há ardente abraço, de mágoa, de emoção

cujo viver evoca um gesto inocente!

Surge abraço, sentido, que sela um perdão,

força divina, vem acalmar...serenamente.

Mas o abraço surgido, na despedida,

no adeus, na viagem, a uma dura lida…

deixa o coração, no peito desfeito.

São belos sinais estreitando espaços,

sinceros afagos, cintilando nos laços…

que só sabe dar, em glória, o Pai eleito.

Setúbal, 02/07/2018

Inácio José Marcelino Lagarto