quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

SERÕES


A paz na Aldeia
Na noite ao Serão;
Seguida da Ceia,
Fumava o tição.

Choravam os filhos,
Ouviam histórias;
As papas dos milhos,
Calavam memórias.

Havia leitura,
Entre uma soneca;
A avó com ternura,
Cosia a boneca.

Unidos os pais,
Cantavam em coro;
Mais jovens casais,
Ficavam em namoro.

No estábulo a vaca,
Com fome mugia;
A mula velhaca,
Na palha dormia.

Alheados aos nadas,
E meditação;
De vidas pesadas,
Olhavam a razão.

Corações humanos,
Sentiam um frio;
Viviam de enganos,
No dia vazio.

No campo ou Cidades,
Tocavam os sinos;
Acordavam vontades,
Na força dos meninos.

Setúbal, 17/02/2009
Inácio Lgarto





MEDITANDO


Sentado
Bem acordado
Olho em redor
Fico a meditar

Bem acordado
Vejo quadro pintado
Com traço no findar

Vejo quadro pintado
Sentado
Bem acordado
Nele a estrela fugiu
Deixou espaço aberto
Foi coberto
Pela solidão
Fragmentos na mente
Nesta curta viagem
Com Rio cheio
Sem margem
Alaga ferozmente
Traz medo e receio
Quer a terra alcançar
Destrui almas
Raízes
Arrasta palmas
Sargaço
Corre a sussurrar
Numa grande confusão
Sem saber ou não
À vida explicar!...

Setúbal, 12/2/2009
Inácio Lagarto

OLHOS VENDADOS


Caminhando
Vou olhando
O que a vida
Nos reserva

Vou olhando
Fico sonhando
Em rasgar esta treva

Fico sonhando
Caminhando
Vou olhando
Sem nada poder ver
Só a dor não esqueço
Veio corromper o sentir
O existir
Hoje, nada é igual
Quero fugir
Ao silêncio
E ao mal;
Pouco peço
A este mero viver
Quero adormecer
Sobre a mágoa que enerva
Já não sei o que sou
Só imagem me conserva
A sombra madrugou
Choro
E rememoro
Neste tempo que ainda Neva.

Setúbal, 11/02/2009
Inácio Lagarto

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

BARCO À DERIVA


Se calo, não penso,
Se penso!... Não calo;
Já não sei como lidar,
com alguém, como um político -
Vende banha, no apregoar.
Tão triste é minha sina,
Como mudou o meu viver!
Levo o tempo à esquina,
Com tão pouco por fazer;
Vejo rosto hostil, distinto,
Cruza-se na estrada da vida;
Ao vê-lo, logo pinto -
Agoniza de velha ferida.
Sou um mero caminhante,
No meio da algazarra;
Aqui e ali, sigo errante,
Pareço barco sem amarra.
Navego num Lago profundo,
Alimento meus desvarios;
Ando perdido,
Moribundo
... Mergulho sem sentido,
Em puras águas dos Rios.


Setúbal, 10/02/2009
Inácio Lagarto

PESADELO


Volto ao passado,
Fico a sorrir;
Depois irado,
Deixei-o fugir.

Ele apareceu,
Veio de mansinho...
Nada esqueceu,
Mostrou o caminho.

Seria o sonho
Ou, a verdade?
Não era tristonho,
Noutra vontade.

Era a alegria,
Sempre a correr;
Esperança do dia,
Trepando no querer.

Ânsias de vidas,
Corações jovens;
Almas sentidas,
Envoltas em nuvens.

Olho o presente,
Vejo solidão!...
Sinto que a mente,
Foge à razão.

Silêncio incerto,
Horas sem dormir;
De olho aberto,
Novo existir.

Sono acordou,
Nasce saudade;
Face molhou;
Dói na idade.


Setúbal, 09/02/2009
Inácio Lagarto

SAUDADE E SONHO




Chegado é o momento,
Em que não há hipocrisia -
Nem valentia;
Porque o lamento...
Brotou sem fantasia!
Renasci do nada saber,
Caminho suavemente
E, aquele trémulo frio,
Deixou-me um vazio;
Perturbou a minha mente;
A memória tornou-se em sonho -
Nem eu quero acreditar;
Às vezes medonho...
Só o tenho de quebrar!
Já da vida não disponho,
Fico com saudade
Vontade
Da fitar!
Lá longe...
No horizonte...
Vejo uma estrela a brilhar!


Setúbal, 07/02/2009
Inácio Lagarto

ITINERÁRIO


Quantas vezes fico a pensar,
No tempo que percorri?
Desde o moço a brincar,
Mais tarde, o belo sonhar
E, do muito que já perdi.

Das brancas paredes, da casa,
Da carroça e do jumento;
Afável chaminé, com brasa,
Da lenha no forno que abrasa;
A arte, era dura, no momento.

Das escolas ao partilhar,
Do professor ao bom mestre;
Na Filarmónica a tocar -
Desde o barro a decorar,
Como colher a amora silvestre.

Naquele jogo ardente,
Cuja razão por nós clama;
Com formação, sempre presente,
Futuro floresceu, na mente,
Prosseguia, na busca da fama.

Hoje por velho, sou julgado,
Quando um dia fui cavalheiro;
Da companheira estou privado,
Triste escravo por ter lutado,
Sou viúvo, como um solteiro.

Sigo uma longa caminhada,
Numa vida não vivida;
Subi e desço a escada!!...
Se criei não vejo nada...
Minha estrela anda perdida!


Setúbal, 06/02/2009
Inácio Lagarto

NOVO DIA


Vai faltando a memória,
Neste tempo que avança;
Entre derrota e vitória,
Fica o sonho de criança.
A vida que foi austera,
Hoje, no Mundo, pouco mudou;
Só pensamento regenera!...
Nada será como era...
Na noite... O silêncio acordou!
Houve caminho errado,
Outro, Que foi lavrado -
Porque o Sol no Céu brilhou.
Por tanto ter lutado...
Vivo e, no sono recordo,
Do muito que tenha perdido,
Sopra vento de confiança,
O peito ficou ferido!
Sentido!!!
Sangra!...
Pelo toque, de fina lança.

Setúbal, 04/02/2009
Inácio Lagarto