terça-feira, 5 de novembro de 2019

AS COSTUREIRAS


As costureiras no Alentejo
mostravam ao tempo o seu valor.
Hoje, linda bondade revejo!
Arte em modelar com tanto amor.

Levantavam a manhã cedo,
acordavam a saudade;
desafiavam, o dia, sem medo...
descobriam, na máquina, sua vontade.

Enxugavam com olhar seguro,
na pureza, a força do criar!
Acompanhavam, com glória, o futuro,
em traços e telas no desenhar.

Não faltava o pano de chita,
as sedas, o linho e a cambraia.
O corte da tesoura esquisita 
cortava… no peito, acertava a saia.

Com dedos minuciosos
moldavam com jeito, os tecidos!
Aos corpos delicados e formosos...
por mãos hábeis eram cosidos.

De linha na agulha enfiada
valorizavam a sonhar da vida.
Prega e pinça ficava cintada...
com uma gargalhada repartida.

Eram vestidos, belos ternos,
elaborados com saber e carinho!
Um vestido de noiva, fatos modernos,
levavam cinto ou véu para o caminho.

Cosidos à máquina ricos sonhos!
Bordados com ternura e alegria
tornando-os em trajes risonhos...
com enfeites e caudas em fantasia.

Costuravam, como troféus, as rugas 
de festas, nascimento de filhos!
Aqui e ali alinhavam as fugas...
apertando as ancas com espartilhos.

Vivem no arquivo das memórias
perfumadas com linha azul!
Luz, sorrisos nas estórias...
gravadas no lençol, palavras do Sul.


Setúbal, 10/01/2018
Inácio José Marcelino Lagarto 





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