quarta-feira, 21 de junho de 2017

O PAÍS ENLUTOU



De negro o inferno iluminou
a trovoada, com luz, riscou o céu;
pelas Aldeias Mártires chorou
colorindo o País de preto véu.


Mistério na fogueira acesa
viu- se o diabo, velhaco, a saltitar;
vagabundo, feroz, sem parar
lançou labaredas de surpresa.
Ouve lágrima naquela mesa,
encostas ingremes da serra queimou
e o hábil bombeiro não apagou!
No meio de fome, tamanho horror
o ontem, foi hora de sofredor...
de negro o inferno iluminou.

Com o tornado surgiu solidão
não ficou um olhar vencedor;
neste caminho andado do Senhor
deixou cofres vazios no chão.
Não houve piedade nem coração
quanto sonho do viver ali morreu,
na sombra escura que apareceu!
Rasgando a terra de saudade,
tombando almas sem liberdade...
a trovoada, com luz, riscou o céu.

Nesta estrada que leva ao Norte
caíram raízes futuras sem fim;
com imagens de tormenta assim
em Pedrógão Grande passou a morte.
Numa fúria rápida, bem forte,
o Povo à Mãe Virgem implorou
em nome do Seu Filho que criou!
Protecção à Família querida
e a tanta riqueza perdida...
pelas Aldeias Mártires chorou.

Cheira a madeira queimada
da língua gigante lançando a voz;
engoliu horizonte pelo fogo veloz
sem paixão, vida devorada.
A paisagem ficou acinzentada
num quadro triste que ardeu,
borrando o florir que Deus lhe deu!
Há que superar com ajuda de ombros
vultos esculpidos pelos assombros...
colorindo o País de preto véu.


Setúbal, 20/06/2017
Inácio José Marcelino Lagarto

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