sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O CAMELO


Há por aí muito camelo,
De íngreme bossa a ondejar;
Com ar pomposo é vê-lo,
Sem o outro poder vencê-lo,
Imponente no triunfar.

De barriga, larga e cheia,
Depressa deixou o deserto;
Vai tecendo árdua teia,
Triste vaidade, em nada premeia,
Nunca olha, ao que vive perto.

De cadeira, bem afinada,
Aquele ignóbil valentão;
Trocou areia pela estrada,
De pele encaracolada,
Tornou-se num embuste vilão.

Veio de longe, do Oriente,
Desprezou rara paisagem;
Corre veloz, como gente,
Usa diálogo impertinente,
Para sacudir a folhagem.

Serve na vida de montaria,
Caminha, sem caminhar;
Tem mistério e ousadia,
Faz da força antipatia,
Parece jumento a soprar.

É garboso em estupidez,
Quer elevar a aspiração;
Promete o que jamais fez,
Engana o louco, sem sensatez,
Neste Mundo de ilusão.

Os animais seguem perdidos,
Todos gemem nos espartilhos;
Quantos camelos feridos,
Por gladiadores sacudidos
Que lhes tiram os ternos brilhos.

Setúbal, 23/10/2008
Inácio Lagarto


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